Eu e minha esposa, em nossas andanças pelo quintal, certo dia fizemos uma grande descoberta: em um pé de azaléas, que não era muito alto, havia um lindo ninho de Coleirinhas, confeccionado com raízes nobres... E foi fácil dimensionar o capricho, o carinho com que aquele casal havia construído seu ninho. Imagino também o diálogo do casal emplumado, com o ninho quase pronto: “Experimenta, querida!” dizia o marido à sua esposa... Ela, então entrava no ninho, dava uma reboladinha e dizia: “Ui! Tem uma pontinha cutucando aqui nesse canto!” E a raiz era logo substituída, por outra mais confortável...
Finalmente
pronto, foram colocados dois ovinhos, que minha esposa chamava de “pedrinhas”,
para que eles não gorassem.
Víamos
sempre o casal indo e vindo e a fêmea chocando, sendo carinhosamente alimentada
pelo seu esposo. Como a primavera é sempre chuvosa, colocamos um guarda-sol e abrigamos
o ninho das intempéries, e eles agradeciam, cantando.
Era
costume nos ausentarmos de casa, por motivos de pequenas viagens e quando
retornamos de uma dessas viagens, umas das primeiras coisas que fizemos foi
examinar o ninho.
Mas,
da varanda da casa pudemos contemplar o casal desolado, olhando tristemente
para o lugar onde deveria estar o ninho. Chegamos então à conclusão de que
alguém havia levado mexido no ninho, levado o ninho, e ficamos muito tristes!
Como
ninguém entrava na casa, suspeitamos que nossa auxiliar de serviços domésticos havia
levado alguém para ajudá-la e possivelmente esse alguém tivesse roubado o
ninho. O casal de coleirinhas perdera a sua casa, construída com muito
sacrifício, além de não sabermos do paradeiro dos ovinhos...
Nossas
duas filhas foram estudar no colégio adventista em Hortolândia, perto de
Campinas (SP). A primeira vez que fui com minha esposa pagar a mensalidade,
fiquei encantado com a beleza do bairro, cortado por ruas asfaltadas e
iluminadas, em cujas calçadas existiam árvores frutíferas de flores lindas,
como a "Pata de Vaca” de várias cores, brancas, azuis, roxas, que exalavam
um perfume delicioso. Era sexta-feira e ao pôr do sol, fomos brindados com o
som divinal de pianos e órgãos entoando hinos que nos davam a sensação que
anjos estavam presentes no local.
Falei
à minha esposa: “Vou comprar um terreno nesse lugar e quando eu me aposentar,
vamos construir uma casa e viremos morar aqui.
Passamos
quatro dias na casa de um casal amigo e depois de muito procurar conseguimos encontrar
o terreno para construirmos o nosso lar. A proprietária (ou os proprietários)
queriam pelo lote CR$ 1.350.000,00 (um milhão e trezentos e cinquenta mil
cruzeiros) e eu só tinha CR$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil cruzeiros)
... Fiz a eles, então, uma proposta: “Dou CR$ 2.000.000,00 (dois milhões)!”, (sob
o olhar atônito de minha esposa, que me perguntou inclusive se eu estava bem) e
completei a proposta: “CR$ 2.000.000,00 (dois milhões de cruzeiros) da seguinte
forma: CR$ 700.000,00 (setecentos mil cruzeiros) agora e mais 13 parcelas mensais
de CR$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros).” Detalhes acertados, fomos ao cartório, ao
banco, e assim concluímos o negócio mais bem sucedido da minha vida.
Não
atrasei uma parcela sequer! Passou o tempo e com a aposentadoria se
aproximando, começamos a cuidar da construção do nosso lar: contratamos com um
pedreiro que fez o desenho da construção; o chefe do Departamento de Obras de
Sumaré (que era Candidato a Prefeito) assinou a planta; fui à Mogi Mirim na fábrica
de azulejos e levei minha esposa que escolheu os que eram do seu gosto; também
fomos ao depósito Santa Isabel, o maior da região, e compramos todo o material
para levantar a nossa tão sonhada casa - portas e janelas da marca Sasazaki,
batentes de madeira, pedra de pia, torneiras, louças sanitárias (lavatório, vaso,
assento, tudo azul!)
Pagamos
impostos e taxas que estavam atrasados, cumprimos todas as exigências públicas.
Compramos o poste e a caixa de luz, além da caixa correio. Para iniciar,
pedimos ao pedreiro que construísse uma edícula para guardarmos todo o material
que não era pouco e se encontrava na garagem da antiga proprietária, nossa
vizinha.
Nessa
época, morávamos em Santos e acabamos ficando alguns meses sem ir à Hortolândia,
não acompanhando assim a construção. E, em uma ida da minha esposa ao colégio,
ela notou que o pedreiro havia utilizado na edícula, diversas peças que se
destinavam à casa. O pedreiro então, ao ser chamado à atenção, demostrando alto
índice de profissionalismo, pediu demissão.
Com a contratação de outros pedreiros conseguimos concluir a construção da edícula e foi quando o país passou por mais uma crise. Foi muito difícil... Fomos forçados a entregarmos o apartamento que morávamos a 16 anos, por não poder pagar o aluguel. Eu estava aposentado, vivendo sozinho com minha esposa, não havia mais nenhum filho morando conosco... A saudade do mar, da cidade, dos amigos me corroía por dentro. A cidade recém-emancipada de Hortolândia, não oferecia recursos. Por diversas vezes aluguei apartamentos em Santos, tentado voltar a cidade que tanto amo, mas não tive sucesso. Até que em minhas andanças e consultas pelas imobiliárias, encontrei um anúncio que dizia: “Vendo chácara, alto padrão, toda murada, em Pedro de Toledo, pelo valor de R$ 43.000,00 (quarenta e três mil reais).
Tínhamos um filho, o Layry,
morando na cidade e por diversas vezes tínhamos ido visitá-lo utilizando como
meio de transporte o trem, que na verdade era muito romântico! Então, fomos ver
a propriedade!
Chegando ao local, pudemos
contatar quer a realidade era outra, muito diferente do anúncio: era apenas uma casa com quintal, nem mesmo
murada a propriedade era, mas sim cercada com telão de arame!
Minha esposa havia ido comigo, e
eu tentei mostrar a ela que não era aquilo que havíamos idealizado. À época, estávamos
bem de saúde e caminhamos então pelas ruas esburacadas até a pista (que também
era uma porcaria), para conhecer a região. Eu bem que tentei dissuadi-la da
ideia de trocar a nossa edícula por aquela casa. Mas ela estava encantada pela tal casa, pois no entender dela
era a tal casa era grande, alta e mais outras qualidades que eu não conseguia
ver...
Ela se esqueceu de todo empenho e
sacrifício que tivemos para levantar aquela edícula. Antes de ir para Pedro de
Toledo havia conversado com o “cidadão, proprietário da chácara" que no
caso do negócio efetivado ele levaria sua mudança e traria a minha no mesmo
caminhão...
Daí, informei o cidadão que não haveria
negócio porque não era aquilo que estava no anúncio. Argumentei isso, pois
pensava que minha esposa estava concordando comigo. Era um domingo...
Segunda-feira, nos sentamos no murinho e olhávamos o quintal: mangueiras,
abacateiros, maracujás, pés de mexerica, goiabeiras, limoeiros, laranjeiras,
esse era o nosso pomar! Comentei com minha esposa o negócio que não fizemos e
eu não sabia os pensamentos dela... Fiquei surpreso com o seu argumento: "É...
vou ter que ficar morando neste lugar que nem camada de ozônio tem? Olha minha
pele manchada, estou ficando com câncer de pele!"
Então tentei argumentar:
"Mas querida, aqui em Hortolândia, não vamos precisar fazer mais nada... Agora é só correr para o
abraço!!
E não adiantou nada discutirmos.
Entendi que se ficasse morando em Hortolândia, ela transformaria minha vida em
um inferno!
Então, fiz o pior negócio da minha vida e a 16 anos moro do outro lado do paraíso... Pelo menos, aprendi uma coisa: quando não se busca a orientação divina, vem a frustração, a depressão, a saudades e o arrependimento!
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