domingo, 11 de outubro de 2009

A História do Sapinho...

Quando meus filhos eram pequenos, eu ajudava minha esposa a adormecê-los:

- Conta uma historinha, pai??

- Qual vocês querem? Ali Babá?? Branca de Neve??

- Não pai... .conta a do Sapinho...

E eu contava...

"Um dia muito lindo, um sapinho pediu a mamãe:

- Mãe, posso dar uma voltinha no bosque??

- Sim, vá, respondeu a mamãe... Mas tenha cuidado na selva! Seus habitantes são perigosos...

- Deixa comigo, mãe... Tchau!! E se despedia o sapinho, confiante.

E o jovem sapinho ia passear e se envolvia em aventuras perigosíssimas, discutindo com os supostos reis da selva... Um dia, todos os que haviam sido enrolados pelo sapinho, se uniram para pegá-lo. E conseguiram! Fizeram um tribunal e sentenciaram o sapinho a ser jogado no fogo, para ser queimado. Ele, espertamente, quando ouviu a sentença, começou a zombar:

- Isso mesmo, me joguem no fogo.... ahahahah, ria-se o sapinho... Joguem-me no fogo, que não tem nada mais gostoso do que um bom mergulho numa fogueira... Como eu gosto, desdenhava o jovem sapo...

Os animais, sem entenderem nada, claro que não quiseram fazer a vontade do sapo. Como é que iriam agradá-lo? Então pensaram em jogá-lo na água, na tentativa de contrariá-lo... Quando o sapinho soube da nova idéia, começou a demonstrar um pavor surreal:

- Na água, não, na água não... Eu não sei nadar, confessou o jovem batráquio.... Toda a floresta então exultou! Encontramos uma maneira de sacaneá-lo!! E todos a uma, diante dos pedidos inúteis do sapo, arremessaram-no no meio do rio. O sapinho afunda... Bolhas de água vêm à tona... Todos acham que agora, estão livres do incomodo sapinho... E quando, comemorando se preparam para ir embora da margem do rio caudaloso, lá do meio, ouvem um grito de alegria. Era o sapinho, que ainda tinha o desplante de gritar:

- E isso mesmo, seus otários!!! Safei-me mais uma vez... Onde já se viu um sapo não saber nadar??? ahahahhaha – nadava e ria-se o verde batráquio....

O leão, então começa a reclamar e discutir com o macaco, a onça dizendo que não concordara com a sentença do rio, espanca a hiena, que ria, não se sabe de nervoso, ou qual motivo fosse... E em meio a essa confusão, o sapinho atravessa o rio, sai na outra margem, dá a volta na floresta e retorna para a sua toca."

E a história terminava por aí, pois meus filhos, então, já haviam adormecido.

Se, em todas as noites eles ainda tivessem permanecido acordados, a história continuaria assim:

"E o sapinho cresceu, ficou moço. Seu temperamento o impedia de viver na floresta e ele não agüentava mais aquela morosidade da mata:

- Mãe, argumenta o já crescido anfíbio, vou para "Sun Paulo" (ele falava assim, pois tinha visto um personagem de novela se referindo assim à Capital Paulista) – lá está o meu futuro, depois venho buscar a senhora...

Foi para a estrada, e logo em meio à poeira, passa um pau de arara e o jovem sapo se agarra nele, como que se agarra à esperança de um novo futuro. Depois de dias de fome e sede, o caminhão chega ao ABC Paulista, que era naquele tempo um grande conglomerado metalúrgico. O sapinho vai procurar emprego, logo se destacando como líder e se coloca à frente das reivindicações dos companheiros de lida. Chamava a todos os colegas de trabalho de "companheiros". E ali, naquela selva de pedra, o jovem sapo descobriu que havia também luta e perseguição.

Havia reis, como na floresta, de onde ele viera, que disputavam o poder. E esses reis se sentiram incomodados com o anfíbio. Perseguiram-no, juntamente com seus companheiros de trabalho. O sapinho e outros, quando foram pegos, foram torturados, enviados para o exílio, muitos mortos, mas o batráquio verde conseguiu sobreviver...

Acabara-se a perseguição, mas recomeçara a disputa, porque todos queriam reinar na selva de pedra. E o sapo agora já era adulto. Pêlos cresceram na sua face, indicando que ele já vencera a adolescência e agora, amadurecera. Em um acidente de trabalho, perde um dedinho de uma de suas patas anteriores (acho que a direita, ou a esquerda, não sei ao certo.... Sei que era um dedo mínimo)... Seus colegas de disputas agora o chamavam de Sapo Barbudo. Estudou, não sei onde, mas depois de muito insistir, (foi derrotado por três vezes ) foi eleito presidente daquele país de matas verdejantes e lagos límpidos, lagos esses muito iguais àquele que um dia, uma junta governativa da floresta o arremessara, pensando que ele não sabia nadar... Esses hoje têm uma certeza: DEVIAMOS TE-LO QUEIMADO VIVO!!"

Os meus filhotes, aos quais eu contava essa história, hoje, espero, contam-na a meus netos. Que contarão aos meus bisnetos e por aí em diante... E o sapinho, que naquela época, dos meus filhos e da historia para dormir, não era barbudo, no próximo dia 27 desse mês, fará 63 anos.

A minha alegria é que ainda teremos muitas histórias do sapinho. E eu sempre terei muitas histórias para contar...

Aguarde as próximas postagens aqui no Blog. Um dos temas deve ser: "Sapinho, agora internacional, empresta dinheiro ao Rei da Selva".

Até lá

São Vicente, Outubro de 2009

Lafa...


 

4 comentários:

  1. Pai querido!
    vc é o máximo!
    É isso, seu sapinho é a personificação do herói nacional: Macunaíma!
    Que fantástico, sou filha de um velinho que o máximo!
    Te amo contador de histórias!

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  2. Maravilhoso!
    A história descreve bem o que foi a trajetória do nosso Lula: uma saga. Acredito em cada palavra, no sentido literal mesmo. Estamos perdendo o pensamento mágico, a capacidade de inventar nossas vidas através das metáforas, e SENTIR o presente, passado e o futuro, para agir concomitantemente... que privilégio ter um presidente como o Lula, esse mago brasileiro, DOUTOR Brasil, que fala a língua que todos entendem. Que orgulho me dá de ver o meu presidente chorar , chorar de alegria pelo Brasil. Grande história, grande contador. A cultura brasileira é feita de anônimos como o senhor, que levam a chama da luz para as gerações vindouras!! Abçs Gerais. Gui Mallon

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  3. Pai, da minha parte fico com a magia do sapinho da primeira parte da história. Sapinho esperto, sapinho que incomoda, sapinho que sempre voltava pros braços da mamãe querida.
    Mas, não posso deixar de dizer que a segunda parte da história, a que eu só vim conhecer com os meus 35 anos é de uma sabedoria enorme!!!
    Te amo!

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  4. E agora o sapinho ganha um longa metragem!!!
    Espero ter criatividade e inteligência para marcar a vida da minha filha com histórias tão lúdicas e inteligentes como essa! Parabéns!

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